domingo, 11 de novembro de 2012

Estética II (Patrick Pessoa)


Estética II

Período: 2012.2
Professor: Patrick Pessoa
Discente em estágio-docência: Naiara Martins Barrozo


Programa

O curso tem como objetivo discutir as formas de apresentação do pensamento filosófico, tendo como foco o conceito de ensaio trabalhado por Adorno em “O ensaio como forma” (1958).
O conceito de ensaio questiona tanto os modos tradicionais de se fazer crítica de arte como o modo tradicional de se fazer filosofia. O curso pretende abordar ambos os aspectos, mas seu foco será a proposta de uma nova concepção de filosofia. O ponto de partida para a compreensão desta nova concepção será o problema do fracasso da racionalidade esclarecida, trabalhado nos ensaios que compõem a Dialética do esclarecimento (1969). Para Adorno, este tipo de escrita filosófica seria capaz de se remeter a uma liberdade de espírito almejada desde o início do esclarecimento que nunca teria sido alcançada pelos alemães - uma liberdade de que eles, ao contrário, teriam preferido abrir mão. O ensaio se remeteria a esta liberdade colocando em xeque o modo de apresentação tradicional do pensamento, propondo uma forma capaz de ser artística e conceitual ao mesmo tempo, racional e intuitiva, ou seja, propondo um modo de pensamento racional que se relaciona com um conceito de razão diferente do que comumente pressupomos como herdeiros do projeto Iluminista.
Na construção deste modo de apresentação de um pensamento racional que não é científico, Adorno recorre a diversos pensadores, dentre os quais serão destacados ao longo do curso Benjamin e Lukács.
De Benjamin vem o conceito de tratado escolástico, apresentado na década de 1920 no prefácio epistemo-crítico ao livro Origem do Drama Barroco Alemão. Para Adorno, o ensaio é como se fosse o tratado moderno. O conceito de ensaio trabalhado por Benjamin está, por sua vez, fundamentado na ideia de apresentação do pensamento, na noção de pensamento constelativo, e na crítica ao método cartesiano contra o qual Benjamin propõe a ideia de método como desvio.
Com relação ao pensamento de Lukács, o curso irá se ater especificamente à ideia de “poema intelectual” apresentada em “A propos de l’essence et de la forme de l’essai: une lettre à Leo Popper”, com a qual Adorno dialoga ao longo de seu texto. A expressão referida explicita bem o caráter ambíguo da forma como descrita pelo pensador húngaro: uma forma poética, sem ser literatura; intelectual, sem ser científica.

Cronograma

19/11: Apresentação do curso
21/11: Características gerais do ensaio como gênero literário e definição do objeto do curso.
26/11: A situação do ensaio na Alemanha da época de Adorno, o problema da crítica literária e o problema do pensamento dicotômico:
26/11 – 03/12: O fracasso da racionalidade esclarecida: Textos escolhidos de Dialética do esclarecimento
05/12 – 12/12: O problema do método cartesiano para Benjamin: Textos: “Prefácio epistemo-crítico”. Bibliografia complementar: Discurso do método
17/12 – 19/12: A forma do tratado: Apresentação da verdade x representação, pesquisa imanente. Texto: “Prefácio epistemo-crítico”.
02/01: A forma do tratado II: Método como desvio, constelação. Texto: “Prefácio epistemo-crítico”.
07/01: A ideia de crítica de arte imanente: “Prefácio epistemo-crítico”, “Ensaio como forma”, e “As afinidades eletivas de Goethe”.
09/01: A crítica de Adorno a Descartes I. Texto: “O ensaio como forma”.
14/01 – 16/01: Metodologia sem método: o sistema assistemático da escrita ensaística. Texto: “O ensaio como forma”.
21/01 – 30/01: Entre o tratado benjaminiano e o ensaio de Max Bense: Leitura do ensaio de Bense. Textos: “O ensaio como prosa”, “Über den Essay und seine Prosa”.
04/02 - 18/02: O conceito de poema intelectual de Lukács. Texto: “A propos de l’essence et de la forme de l’essai: une lettre à Leo Popper”
20/02: A crítica de Adorno ao conceito de Lukács. Textos: “O ensaio como forma” e “A propos de l’essence et de la forme de l’essai: une lettre à Leo Popper”.  
25/02: Aspectos literários do pensamento filosófico. Texto: “O ensaio como forma”.
27/02: Aspectos científicos do pensamento filosófico. Texto: “O ensaio como forma”.
04/03: A noção de racionalidade do pensamento ensaístico.
06/03: Avaliação.
11/03: Fechamento: Sistematização dos quatro conceitos apresentados no curso e das concepções de filosofia correspondentes I: O pensamento cartesiano e as comunicações acadêmicas; o tratado de Benjamin e a apresentação da verdade, o ensaio de Lukács e o pensamento poético-intelectual. (O ensaio de Bense).
13/03: Sistematização dos quatro conceitos apresentados no curso e das concepções de filosofia correspondentes II: O ensaio de Adorno como forma do pensamento esclarecido.
18/03 – 20/03: Aspectos políticos do ensaio.
25/03: Verificação suplementar.
28/03: Entrega de resultado final e avaliação do curso.


Bibliografia primária
ADORNO, Theodor. “O ensaio como forma”. In:           . Notas de Literatura I. São Paulo: Livraria Duas Cidades/ Editora 34, 2008

Bibliografia secundária
ADORNO, Theodor. Notas de Literatura I. São Paulo: Livraria Duas Cidades/ Editora 34, 2008
________. HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento. Fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

BENJAMIN, Walter. “Prefácio epistemo-crítico”. In:           . Origem do Drama Barroco Alemão. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.
BENSE, Max. Über den Essay und seine Prosa. Merkur, 1/1947, 3. Heft.

LUKÁCS, Georg. “A propos de l’essence et de la forme de l’essai: une lettre à Leo Popper”. In:            . L’Âme et les formes. Paris: Éditions Gallimard, 1974.
________. A teoria do romance. São Paulo: Ed. 34/ Livraria Duas Cidades, 2009.
STAROBINSKI, Jean. É possível definir o ensaio? In: Serrote, 10. São Paulo: Ipsis Gráfica e Editora, 2012.


Bibliografia complementar
CACHOPO, João Pedro de Bastos Gonçalves. Verdade e enigma no pensamento estético de Adorno. Tese de doutoramento em filosofia contemporânea. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade de Nova Lisboa, 2011.

DESCARTES. Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
DUARTE, Rodrigo. Mímesis e racionalidade. São Paulo: Loyola, 1993.
ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
GAGNEBIN, Jeanne Marie.  Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006.
HUHN, Tom. “Lukács and the Essay Form.” In: New German Critique. nº 78, 1999. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/488459
LUKÁCS, Georg. Selected Correspondence 1902 – 1920. Nova York: Columbia University Press, 1986.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Ler o livro do mundo: Walter Benjamin e crítica poética. São Paulo: Iluminuras, 1999.
________. (org.) Leituras de Walter Benjamin. São Paulo: Annablume/Fapesp, 1999.

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