Estética
II
Período: 2012.2
Professor: Patrick Pessoa
Discente em estágio-docência:
Naiara Martins Barrozo
Programa
O curso tem como objetivo
discutir as formas de apresentação do pensamento filosófico, tendo como foco o
conceito de ensaio trabalhado por Adorno em “O ensaio como forma” (1958).
O conceito de ensaio questiona
tanto os modos tradicionais de se fazer crítica de arte como o modo tradicional
de se fazer filosofia. O curso pretende abordar ambos os aspectos, mas seu foco
será a proposta de uma nova concepção de filosofia. O ponto de partida para a
compreensão desta nova concepção será o problema do fracasso da racionalidade
esclarecida, trabalhado nos ensaios que compõem a Dialética do
esclarecimento (1969). Para Adorno, este tipo de escrita filosófica seria
capaz de se remeter a uma liberdade de espírito almejada desde o início do
esclarecimento que nunca teria sido alcançada pelos alemães - uma liberdade de
que eles, ao contrário, teriam preferido abrir mão. O ensaio se remeteria a
esta liberdade colocando em xeque o modo de apresentação tradicional do
pensamento, propondo uma forma capaz de ser artística e conceitual ao mesmo
tempo, racional e intuitiva, ou seja, propondo um modo de pensamento racional
que se relaciona com um conceito de razão diferente do que comumente
pressupomos como herdeiros do projeto Iluminista.
Na construção deste modo de
apresentação de um pensamento racional que não é científico, Adorno recorre a
diversos pensadores, dentre os quais serão destacados ao longo do curso
Benjamin e Lukács.
De Benjamin vem o conceito de
tratado escolástico, apresentado na década de 1920 no prefácio epistemo-crítico
ao livro Origem do Drama Barroco Alemão. Para Adorno, o ensaio é como se
fosse o tratado moderno. O conceito de ensaio trabalhado por Benjamin está, por
sua vez, fundamentado na ideia de apresentação do pensamento, na noção de
pensamento constelativo, e na crítica ao método cartesiano contra o qual Benjamin
propõe a ideia de método como desvio.
Com relação ao pensamento de
Lukács, o curso irá se ater especificamente à ideia de “poema intelectual”
apresentada em “A propos de l’essence et de la forme de l’essai: une lettre à
Leo Popper”, com a qual Adorno dialoga ao longo de seu texto. A expressão
referida explicita bem o caráter ambíguo da forma como descrita pelo pensador
húngaro: uma forma poética, sem ser literatura; intelectual, sem ser
científica.
Cronograma
19/11: Apresentação do curso
21/11: Características gerais do ensaio como gênero
literário e definição do objeto do curso.
26/11: A situação do ensaio na Alemanha da época de Adorno,
o problema da crítica literária e o problema do pensamento dicotômico:
26/11 – 03/12: O fracasso da racionalidade esclarecida:
Textos escolhidos de Dialética do esclarecimento
05/12 – 12/12: O problema do método cartesiano para
Benjamin: Textos: “Prefácio epistemo-crítico”. Bibliografia complementar: Discurso
do método
17/12 – 19/12: A forma do tratado: Apresentação da verdade x
representação, pesquisa imanente. Texto: “Prefácio epistemo-crítico”.
02/01: A forma do tratado II: Método como desvio,
constelação. Texto: “Prefácio epistemo-crítico”.
07/01: A ideia de crítica de arte imanente: “Prefácio
epistemo-crítico”, “Ensaio como forma”, e “As afinidades eletivas de Goethe”.
09/01: A crítica de Adorno a Descartes I. Texto: “O ensaio
como forma”.
14/01 – 16/01: Metodologia sem método: o sistema
assistemático da escrita ensaística. Texto: “O ensaio como forma”.
21/01 – 30/01: Entre o tratado benjaminiano e o ensaio de
Max Bense: Leitura do ensaio de Bense. Textos: “O ensaio como prosa”, “Über den
Essay und seine Prosa”.
04/02 - 18/02: O conceito de poema intelectual de Lukács.
Texto: “A propos de l’essence et de
la forme de l’essai: une lettre à Leo Popper”
20/02: A crítica de Adorno ao conceito de Lukács. Textos: “O
ensaio como forma” e “A propos de
l’essence et de la forme de l’essai: une lettre à Leo Popper”.
25/02: Aspectos literários do pensamento filosófico. Texto:
“O ensaio como forma”.
27/02: Aspectos científicos do pensamento filosófico. Texto:
“O ensaio como forma”.
04/03: A noção de racionalidade do pensamento ensaístico.
06/03: Avaliação.
11/03: Fechamento: Sistematização dos quatro conceitos
apresentados no curso e das concepções de filosofia correspondentes I: O
pensamento cartesiano e as comunicações acadêmicas; o tratado de Benjamin e a
apresentação da verdade, o ensaio de Lukács e o pensamento poético-intelectual.
(O ensaio de Bense).
13/03: Sistematização dos quatro conceitos apresentados no
curso e das concepções de filosofia correspondentes II: O ensaio de Adorno como
forma do pensamento esclarecido.
18/03 – 20/03: Aspectos políticos do ensaio.
25/03: Verificação suplementar.
28/03: Entrega de resultado final e avaliação do curso.
Bibliografia
primária
ADORNO, Theodor. “O ensaio como
forma”. In: . Notas
de Literatura I. São Paulo: Livraria Duas Cidades/ Editora 34, 2008
Bibliografia secundária
ADORNO, Theodor. Notas de Literatura I. São Paulo: Livraria Duas
Cidades/ Editora 34, 2008
________. HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento. Fragmentos
filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
BENJAMIN, Walter. “Prefácio
epistemo-crítico”. In: .
Origem do Drama Barroco Alemão. São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.
BENSE, Max. Über den Essay und seine Prosa. Merkur, 1/1947, 3. Heft.
LUKÁCS, Georg. “A propos de l’essence et de la forme de l’essai: une lettre
à Leo Popper”. In: .
L’Âme et les formes. Paris: Éditions Gallimard, 1974.
________. A teoria do romance.
São Paulo: Ed. 34/ Livraria Duas Cidades, 2009.
STAROBINSKI, Jean. É possível definir
o ensaio? In: Serrote, 10. São Paulo: Ipsis Gráfica e Editora, 2012.
Bibliografia
complementar
CACHOPO, João Pedro de Bastos Gonçalves. Verdade e
enigma no pensamento estético de Adorno. Tese de doutoramento em filosofia
contemporânea. Lisboa: Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade
de Nova Lisboa, 2011.
DESCARTES. Discurso do método. São
Paulo: Martins Fontes, 2009.
DUARTE,
Rodrigo. Mímesis e racionalidade. São Paulo: Loyola, 1993.
ECO, Umberto. Interpretação
e superinterpretação. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar
escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006.
HUHN, Tom. “Lukács and the Essay Form.” In: New German Critique.
nº 78, 1999. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/488459
LUKÁCS, Georg. Selected Correspondence 1902 – 1920. Nova York: Columbia University
Press, 1986.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Ler o
livro do mundo: Walter Benjamin e crítica poética. São Paulo: Iluminuras,
1999.
________. (org.) Leituras de Walter
Benjamin. São Paulo: Annablume/Fapesp, 1999.
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