quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Epistemologia II (Monique Guedes) - 2012.1


Epistemologia II
Monique Guedes

Objetivo

Com bastante freqüência, vemos a literatura que se desenvolve em torno do sistema cartesiano evocar a intuição como a operação intelectual privilegiada por Descartes por ser a única capaz de assegurar o ideal apodítico mantido pelo filósofo. Num tal quadro, a ciência cartesiana se pautaria prioritariamente pela exigência de certeza e evidência e, conseqüentemente, pela exigência de justificação das verdades alcançadas. Resultaria ainda, desta mesma perspectiva, uma teoria cartesiana do conhecimento na qual este intelecto intuicionista se mostraria essencialmente passivo e contemplativo. Nosso propósito, no curso, consiste em, de um lado, revelar as bases textuais que tornaram possível a adoção, por muitos autores, desta perspectiva acerca da filosofia cartesiana da ciência (e da teoria do conhecimento que lhe é tributária); e, de outro, mostrar que uma configuração bastante diferente da filosofia cartesiana da ciência (e, portanto, também da sua teoria do conhecimento) pode ser extraída quando se privilegia bases textuais menos divulgadas entre os comentadores. O curso nos proporcionará a possibilidade por à prova esta hipótese de pesquisa: a depender dos textos a partir dos quais se extrai a filosofia cartesiana da ciência, a ciência cartesiana se mostra marcada mais pela exigência de ampliação do conhecimento do que pelo ideal apodítico. Esta hipótese, por sua vez, obriga a uma revisão da teoria cartesiana do conhecimento na qual a dedução assume um papel de destaque e na qual o intelecto já não se mostra estritamente passivo. Esta perspectiva nova sobre a ciência cartesiana nos permitiria dirimir a contradição recorrente na qual incorrem os historiadores da filosofia moderna que, de um lado, situam a ciência cartesiana na revolução científica do século XVII, pelas rupturas introduzidas por ela e, de outro, sustentam uma caracterização do intelecto cartesiano incompatível, em muitos aspectos, com uma verdadeira revolução na ciência.

Bibliografia*
DESCARTES. Regras para a Direção do Espírito. Lisboa: Edições 70, 2000.
____________. Discurso do Método e Meditações. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. Obra Escolhida. SP: Difel, 1962. 
___________. Cartas Escolhidas. (Indicadas ao longo do curso)

* A bibliografia secundária será indicada ao longo do curso e deixada na pasta 220 do bloco N.        

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