Epistemologia II
Monique Guedes
Objetivo
Com bastante freqüência, vemos
a literatura que se desenvolve em torno do sistema cartesiano evocar a intuição
como a operação intelectual privilegiada por Descartes por ser a única capaz de
assegurar o ideal apodítico mantido pelo filósofo. Num tal quadro, a ciência
cartesiana se pautaria prioritariamente pela exigência de certeza e evidência
e, conseqüentemente, pela exigência de justificação das verdades alcançadas.
Resultaria ainda, desta mesma perspectiva, uma teoria cartesiana do
conhecimento na qual este intelecto intuicionista se mostraria essencialmente
passivo e contemplativo. Nosso propósito, no curso, consiste em, de um lado,
revelar as bases textuais que tornaram possível a adoção, por muitos autores,
desta perspectiva acerca da filosofia cartesiana da ciência (e da teoria do
conhecimento que lhe é tributária); e, de outro, mostrar que uma configuração
bastante diferente da filosofia cartesiana da ciência (e, portanto, também da
sua teoria do conhecimento) pode ser extraída quando se privilegia bases
textuais menos divulgadas entre os comentadores. O curso nos proporcionará a
possibilidade por à prova esta hipótese de pesquisa: a depender dos textos a
partir dos quais se extrai a filosofia cartesiana da ciência, a ciência
cartesiana se mostra marcada mais pela exigência de ampliação do conhecimento
do que pelo ideal apodítico. Esta hipótese, por sua vez, obriga a uma revisão
da teoria cartesiana do conhecimento na qual a dedução assume um papel de
destaque e na qual o intelecto já não se mostra estritamente passivo. Esta
perspectiva nova sobre a ciência cartesiana nos permitiria dirimir a
contradição recorrente na qual incorrem os historiadores da filosofia moderna
que, de um lado, situam a ciência cartesiana na revolução científica do século
XVII, pelas rupturas introduzidas por ela e, de outro, sustentam uma
caracterização do intelecto cartesiano incompatível, em muitos aspectos, com
uma verdadeira revolução na ciência.
Bibliografia*
DESCARTES.
Regras para a Direção do Espírito.
Lisboa: Edições 70, 2000.
____________.
Discurso do Método e Meditações. Trad. J. Guinsburg e Bento
Prado Júnior. Obra Escolhida. SP:
Difel, 1962.
___________.
Cartas Escolhidas. (Indicadas ao longo do curso)
*
A bibliografia secundária será indicada ao longo do curso e deixada na pasta
220 do bloco N.
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