PROGRAMA DE CURSO: EPISTEMOLOGIA III
PROFESSOR: Rodrigo Pinto de Brito, rod.pintodebrito@yahoo.com.br
Propomos como
tema desta disciplina o tratamento sistemático da Epistemologia Estóica,
notadamente do primeiro Estoicismo que vai de Zenão de Cítio a Crisipo,
passando por Cleanto de Assos.
1- OBJETIVOS:
Fazer uma breve
exposição do sistema filosófico Estóico (notadamente do primeiro Estoicismo,
também conhecido como círculo zenoniano) para, em seguida, demonstrar como a
epistemologia desempenha um papel fundamental no sistema ao articular a física
e a ética Estóicas
2- APRESENTAÇÃO:
O Estoicismo foi
uma das mais influentes escolas de filosofia da antiguidade e sua influência
persistiu até a atualidade. Originada em Atenas em torno de 300 a.C, tornou-se
especialmente popular no mundo Romano, enquanto que mais recentemente
influenciou pensadores como Montaigne, Descartes, Spinoza, Kant, Nietzsche e
Deleuze.
Fundado por
Zenão de Cítio, que é um território de domínio fenício na ilha de Chipre, reúne
características de escolas filosóficas mais anteriores e que são bastante
influentes sobre o pensamento Estóico.
3- ZENÃO:
Nascido de
linhagem parcialmente fenícia em torno de 334 a.C., lia livros trazidos de
Atenas por seu pai, um próspero mercador, tendo se interessado por filosofia
desde a infância e com cerca de vinte anos abandona os negócios da família em
sua cidade natal e muda-se para Atenas em busca de instrução filosófica onde
passou a freqüentar os círculos remanescentes de filosofia socrática.
4- INFLUÊNCIAS:
a) Cinismo à
O primeiro professor de Zenão foi o Cínico
Crates. Possivelmente, o que interessou a Zenão fossem as respostas práticas e
imediatas oferecidas pelos cínicos em resposta aos nomoi da cidade, de modo que eles, para quem a excelência dos
sábios é auto-suficiente, rejeitavam como supérfluas todas as convenções
sociais e procuravam um estilo de vida indiferente, chegando mesmo a ser
escandaloso. De fato, a influência da sua doutrina ética em que a excelência (aretê) era a auto-suficiência (autarkeia) é bastante profunda sobre as
escolas helenísticas, contudo em nenhuma escola se faz sentir mais do que no
Estoicismo. Ainda assim, Zenão nunca chega a propor um estilo de vida cínico, homem
reservado que era, acaba por tomar a indiferença cínica como austeridade, ou
seja, um princípio muito mais sociável do que o preconizado pelos cínicos e que
posteriormente se tornaria elogiável por sua conformidade com os costumes da
cidade, enquanto que, de fato, os cínicos se tornariam reprováveis justamente
por seu inconformismo.
b) Megarismo à Em busca, talvez, de
uma fundamentação teórica mais forte, coisa rejeitada pelos cínicos para quem
(em moldes socráticos) a filosofia era estritamente uma forma de vida, Zenão
rompe com os cínicos e passa a ouvir preleções de Estilpo de Megara. Os
filósofos Megáricos também viam a filosofia como forma de vida e concordavam
com a idéia de excelência como auto-suficiência embora não fossem tão radicais
como os cínicos. Além disso, os Megáricos não rejeitavam e, pelo contrário,
incentivavam a necessidade de um amparo teórico, notadamente acerca de técnicas
discursivas para aumentar a capacidade dialética dos adeptos. E também, Estilpo
possuía alguns argumentos metafísicos que o levaram a rejeitar os universais e,
por ser um professor afamado e de vasta audiência, fez com estes argumentos se
tornassem bastante influentes sobre a epistemologia helenística, notadamente
amplificando a predileção por teorias empiristas.
c) Academia à Zenão deserta do
círculo Megárico e passa a freqüentar a Academia sob Polemo, um professor de
ética que pensava que havia bens corporais externos.
d) Escola
Dialética à A escola Dialética era um círculo de especialização em
lógica e modos de argumentação bastante popular no período helenístico e por lá
Zenão passou, tendo sido aluno de Diodoro Cronus que popularizou uma coleção de
quebra-cabeças que se tornariam centrais na dialética helenista e, ao mesmo
tempo, ele e seus pupilos desenvolveram a lógica proposicional com tanto
sucesso que ela se tornou, na mão dos Estóicos, unânime como a lógica da era
helenista, rapidamente eclipsando a lógica de termos do Peripatos.
5- O SISTEMA
ESTÓICO:
O sistema Estóico se tornou célebre por conceber a filosofia
como tripartida, concepção que, de modo algum, era uma exclusividade Estóica,
Epicuristas também a concebiam desta forma e ambos recolocaram na cena
filosófica uma preocupação com um tema que fora parcialmente marginalizado por
Sócrates e o socratismo: a física. Contudo, persistiram concordando com
Sócrates ao entenderem que as mais importantes reflexões filosóficas são as que
concernem à moral, mas para ambas escolas (Estóica e Epicurista) — embora de
forma diferente — viver bem e ser feliz é viver em conformidade com a natureza.
Logo, urgiria a necessidade de conhecer a natureza para agir em
consonância com seus desígnios. Eis a relevância fundamental do conhecimento: é
ele o responsável por unir a finalidade moral (telos) do sistema Estóico — a vida virtuosa, que é a vida feliz
vivida em conformidade com a natureza — com a própria natureza, que precisa ser
interpretada através de uma física. Por sua vez, os critérios e parâmetros que
validam ou repudiam formas de conhecer o real e, portanto, a verdade, são
lançados e fundamentados por uma lógica que inclui teses epistemológicas (assim
também era formalmente para Epicuristas, embora o conteúdo de suas teses fosse
diferente e por vezes oposto).
Para elucidar esta imbricação entre as três partições da
filosofia (física, lógica e ética) os Estóicos desenvolveram a célebre metáfora
do seu sistema filosófico como árvore:
a) a raiz que é a origem (arkhé) da planta e dá a ela fundamentos sólidos é a física que
investiga sobre a origem (arkhé) do
próprio kosmos e dá fundamentos
sólidos à ação do sábio;
b) para compreender a natureza é preciso utilizar critérios
e argumentos que demarquem o limite entre o firme conhecimento da verdade e a
mera opinião vacilante que não conduz à felicidade. A firmeza do conhecimento é
como a do tronco que serve como sustentáculo da copa (moral), além
disso, é o tronco que transporta o que é extraído pelas raízes até os frutos, a
lógica é o elo que liga a física à ética;
c) os frutos são a própria ética, que é o que pode
ser colhido pelo homem e nos serve como sustento para a vida. Contudo, para que
sejam plenamente alimentícios, os frutos devem carregar os nutrientes
adquiridos pela raiz da árvore e transportados pelo tronco. Para que a ação
seja correta ela deve ser conforme a natureza, e essa conformidade só pode
assegurada através do reto uso da razão. Ser feliz é ser sábio.
Antes de nos atermos à questão do conhecimento e sua
possibilidade para Estóicos, convém esboçar brevemente o teor das doutrinas
Estóicas da física e da ética, recorreremos mais uma vez à metáfora da árvore:
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