quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Epistemologia III (Rodrigo Pinto de Brito) - 2012.1


PROGRAMA DE CURSO: EPISTEMOLOGIA III

PROFESSOR: Rodrigo Pinto de Brito, rod.pintodebrito@yahoo.com.br

Propomos como tema desta disciplina o tratamento sistemático da Epistemologia Estóica, notadamente do primeiro Estoicismo que vai de Zenão de Cítio a Crisipo, passando por Cleanto de Assos.

1- OBJETIVOS:

Fazer uma breve exposição do sistema filosófico Estóico (notadamente do primeiro Estoicismo, também conhecido como círculo zenoniano) para, em seguida, demonstrar como a epistemologia desempenha um papel fundamental no sistema ao articular a física e a ética Estóicas

2- APRESENTAÇÃO:

O Estoicismo foi uma das mais influentes escolas de filosofia da antiguidade e sua influência persistiu até a atualidade. Originada em Atenas em torno de 300 a.C, tornou-se especialmente popular no mundo Romano, enquanto que mais recentemente influenciou pensadores como Montaigne, Descartes, Spinoza, Kant, Nietzsche e Deleuze.
Fundado por Zenão de Cítio, que é um território de domínio fenício na ilha de Chipre, reúne características de escolas filosóficas mais anteriores e que são bastante influentes sobre o pensamento Estóico.

3- ZENÃO:

Nascido de linhagem parcialmente fenícia em torno de 334 a.C., lia livros trazidos de Atenas por seu pai, um próspero mercador, tendo se interessado por filosofia desde a infância e com cerca de vinte anos abandona os negócios da família em sua cidade natal e muda-se para Atenas em busca de instrução filosófica onde passou a freqüentar os círculos remanescentes de filosofia socrática.

4- INFLUÊNCIAS:

a) Cinismo à O primeiro professor de Zenão foi o Cínico Crates. Possivelmente, o que interessou a Zenão fossem as respostas práticas e imediatas oferecidas pelos cínicos em resposta aos nomoi da cidade, de modo que eles, para quem a excelência dos sábios é auto-suficiente, rejeitavam como supérfluas todas as convenções sociais e procuravam um estilo de vida indiferente, chegando mesmo a ser escandaloso. De fato, a influência da sua doutrina ética em que a excelência (aretê) era a auto-suficiência (autarkeia) é bastante profunda sobre as escolas helenísticas, contudo em nenhuma escola se faz sentir mais do que no Estoicismo. Ainda assim, Zenão nunca chega a propor um estilo de vida cínico, homem reservado que era, acaba por tomar a indiferença cínica como austeridade, ou seja, um princípio muito mais sociável do que o preconizado pelos cínicos e que posteriormente se tornaria elogiável por sua conformidade com os costumes da cidade, enquanto que, de fato, os cínicos se tornariam reprováveis justamente por seu inconformismo.
b) Megarismo à Em busca, talvez, de uma fundamentação teórica mais forte, coisa rejeitada pelos cínicos para quem (em moldes socráticos) a filosofia era estritamente uma forma de vida, Zenão rompe com os cínicos e passa a ouvir preleções de Estilpo de Megara. Os filósofos Megáricos também viam a filosofia como forma de vida e concordavam com a idéia de excelência como auto-suficiência embora não fossem tão radicais como os cínicos. Além disso, os Megáricos não rejeitavam e, pelo contrário, incentivavam a necessidade de um amparo teórico, notadamente acerca de técnicas discursivas para aumentar a capacidade dialética dos adeptos. E também, Estilpo possuía alguns argumentos metafísicos que o levaram a rejeitar os universais e, por ser um professor afamado e de vasta audiência, fez com estes argumentos se tornassem bastante influentes sobre a epistemologia helenística, notadamente amplificando a predileção por teorias empiristas.
c) Academia à Zenão deserta do círculo Megárico e passa a freqüentar a Academia sob Polemo, um professor de ética que pensava que havia bens corporais externos.
d) Escola Dialética à A escola Dialética era um círculo de especialização em lógica e modos de argumentação bastante popular no período helenístico e por lá Zenão passou, tendo sido aluno de Diodoro Cronus que popularizou uma coleção de quebra-cabeças que se tornariam centrais na dialética helenista e, ao mesmo tempo, ele e seus pupilos desenvolveram a lógica proposicional com tanto sucesso que ela se tornou, na mão dos Estóicos, unânime como a lógica da era helenista, rapidamente eclipsando a lógica de termos do Peripatos.

5- O SISTEMA ESTÓICO:

O sistema Estóico se tornou célebre por conceber a filosofia como tripartida, concepção que, de modo algum, era uma exclusividade Estóica, Epicuristas também a concebiam desta forma e ambos recolocaram na cena filosófica uma preocupação com um tema que fora parcialmente marginalizado por Sócrates e o socratismo: a física. Contudo, persistiram concordando com Sócrates ao entenderem que as mais importantes reflexões filosóficas são as que concernem à moral, mas para ambas escolas (Estóica e Epicurista) — embora de forma diferente — viver bem e ser feliz é viver em conformidade com a natureza. Logo, urgiria a necessidade de conhecer a natureza para agir em consonância com seus desígnios. Eis a relevância fundamental do conhecimento: é ele o responsável por unir a finalidade moral (telos) do sistema Estóico — a vida virtuosa, que é a vida feliz vivida em conformidade com a natureza — com a própria natureza, que precisa ser interpretada através de uma física. Por sua vez, os critérios e parâmetros que validam ou repudiam formas de conhecer o real e, portanto, a verdade, são lançados e fundamentados por uma lógica que inclui teses epistemológicas (assim também era formalmente para Epicuristas, embora o conteúdo de suas teses fosse diferente e por vezes oposto).
Para elucidar esta imbricação entre as três partições da filosofia (física, lógica e ética) os Estóicos desenvolveram a célebre metáfora do seu sistema filosófico como árvore:
a) a raiz que é a origem (arkhé) da planta e dá a ela fundamentos sólidos é a física que investiga sobre a origem (arkhé) do próprio kosmos e dá fundamentos sólidos à ação do sábio;
b) para compreender a natureza é preciso utilizar critérios e argumentos que demarquem o limite entre o firme conhecimento da verdade e a mera opinião vacilante que não conduz à felicidade. A firmeza do conhecimento é como a do tronco que serve como sustentáculo da copa (moral), além disso, é o tronco que transporta o que é extraído pelas raízes até os frutos, a lógica é o elo que liga a física à ética;
c) os frutos são a própria ética, que é o que pode ser colhido pelo homem e nos serve como sustento para a vida. Contudo, para que sejam plenamente alimentícios, os frutos devem carregar os nutrientes adquiridos pela raiz da árvore e transportados pelo tronco. Para que a ação seja correta ela deve ser conforme a natureza, e essa conformidade só pode assegurada através do reto uso da razão. Ser feliz é ser sábio.
Antes de nos atermos à questão do conhecimento e sua possibilidade para Estóicos, convém esboçar brevemente o teor das doutrinas Estóicas da física e da ética, recorreremos mais uma vez à metáfora da árvore:

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